03/08/12

Investimento cria a cultura poupadora

Em que momento da vida vale a pena fazer um plano de previdência privada? Os especialistas são unânimes em garantir que quanto mais cedo melhor. A aposentadoria pode ser um evento distante, nem por isso a preocupação em assegurar tranquilidade material na velhice deve ser postergada. Trata-se de um investimento que, embora vise o futuro, tem consequências importantes no presente. A principal é de criar a cultura da poupança. Não só a de guardar todo mês pelo menos um mínimo previamente comprometido. Mas sobretudo a de não fazer saques por qualquer motivo. Os planos de previdência privada só se tornam um bom negócio no longo prazo.
As vantagens tributárias concedidas a eles por um governo preocupado em aliviar o pesado farto da Previdência Social são auferidas apenas se o investidor tiver uma visão de longo prazo. Eles são atraentes também porque não se pode ficar dependente da aposentadoria oficial.
Seguindo a trilha internacional, a tendência é de o progressivo envelhecimento da população brasileira ser acompanhado de regras cada vez menos favoráveis aos novos contingentes de aposentados.
O Censo 2010 do IBGE mostrou que o peso dos jovens – faixas etárias até 25 anos – vem diminuindo no conjunto da população, enquanto cresce a participação do demais grupos. A fatia das pessoas com mais de 65 anos aumentou de 5,9% no ano 2000 para 7,4% em 2010. O IBGE estima que a quantidade de idosos proporcionalmente ao restante da população dobre em 30 anos. Por causa da menor taxa de natalidade, do baixo crescimento populacional e da maior expectativa de vida, a equação da Previdência não fecha: o rombo se alarga porque há menos jovens contribuindo para que mais idosos se aposentem. O resultado é que o valor do benefício ficará sempre abaixo do último salário.
Não é por causa disso que será decisão sábia não contribuir para o INSS. Quem for empregado com registro em carteira não terá opção: o desconto será obrigatório. Mas os autônomos devem fazê-lo, alerta o advogado especializado em questões previdenciárias Hilário Bocchi Júnior, sócio do escritório Bocchi Advogados, nem que seja apenas para garantir para si ou sua família assistência nos momentos de doença, invalidez, idade avançada ou morte. "A pessoa pode contribuir durante apenas um mês com o mínimo de R$ 60,00 e se vier a falecer no mês seguinte a sua família terá direito a um salário mínimo mensal pelo resto da vida. Isso não existe em lugar nenhum do mundo", diz.
Ao contrário do sistema vigente na previdência social, segundo o qual quem trabalha paga pelos aposentados, nos planos privados é o próprio contribuinte quem investe para ele mesmo usufruir no futuro. Por isso, quanto mais cedo começar a capitalização, maior será o bolo no futuro. Existem dois tempos nesses planos: a fase de acumulação e a de usufruto dos benefícios. Que, aos 20 anos, projeta se aposentar aos 60 com R$ 1 milhão no bolso, deve poupar um pouco mais de R$ 2 mil ao ano, supondo-se uma rentabilidade do plano de 10% ao ano. Mas quem só toma essa decisão aos 50 anos, precisará economizar quase R$ 63 mil a cada um dos 10 anos seguintes.
O professor de finanças da FGV-SP, Samy Dana, diz que a principal virtude dos planos é a de criar quase coercitivamente o hábito de poupar no longo prazo. Como para usufruir dos benefícios fiscais os saques são desestimulados, acabam forjando no investidor a cultura de formulação de objetivos de longo prazo.
A desvantagem mais evidente dos planos privados, como o PGBL e o VGBL, são as altas taxas de carregamento e administração cobradas pelas instituições. Elas costumam variar de 1% a 3,5%, mas podem chegar em alguns casos em até 5%. São elevadas porque, no entender de Dana, a competição entre os bancos ainda é baixa e porque, por serem muito altos, os juros nominais formam uma gordura que camufla o impacto das tarifas sobre o rendimento final, inibindo descontentamentos por parte dos investidores. Tanto é que, no longo prazo, apesar de gozar de vantagens fiscais, pelas suas contas a previdência privada não consegue ser muito mais compensadora do que uma aplicação similar em papéis federais via Tesouro Direto.
O educador financeiro Álvaro Modernell, sócio-fundador da Mais Ativos, diz que a gestão profissional dos recursos confiados aos planos de previdência compensa largamente o ônus das taxas cobradas. "Nos momentos de estabilidade, há uma grita geral contra as taxas. Mas, durante as crises, frequentemente omite-se a relevância da administração técnica em reduzir o impacto das turbulências sobre as carteiras. Sobretudo em aplicações nas bolsas de valores, todos se vangloriam dos ganhos obtidos em épocas de bonança, mas ninguém conta os tombos que levou na crise", diz.