Quanto custa educar um filho?
É possível quantificar isso na prática?
Ter filhos sem planejar – e não ter a menor idéia de quanto eles custam – pode representar forte barreira para a construção da independência financeira da família.
“Filhos melhor não tê-los, mas se não tê-los como sabê-los”. A famosa frase do poeta maior Vinícius de Moraes é de indescritível beleza, e reflete com profundidade a alegria de se ter filhos à nossa volta.
Pensando, no entanto, sob o ponto de vista puramente financeiro, que é prático e nada poético, eu diria que, em se tratando de ter filhos, o melhor “é sabê-los antes de tê-los”.
Naturalmente não me refiro a conhecê-los propriamente dito, mas reconhecer o que será necessário ter ou fazer para que eles nasçam em lares equilibrados e não desarranjados. Ou no mínimo saber o quanto eles podem custar, em um mundo em que precisamos estar educando cidadãos globais, capazes de funcionar competentemente em um mundo de competição acirrada.
Não se trata mais de tê-los e não dar a eles o suporte que eles precisarão durante uma boa parte de suas vidas. No mínimo isso não seria justo com a pessoa que vai nascer.
Hoje, acredita-se que quanto mais ativos faltam no nascimento, menores serão as chances do indivíduo pela vida afora.
No filme Parque dos Dinossauros, o protagonista justificando sua aversão a crianças – que depois ele terá que proteger durante o filme todo – diz: “Crianças são barulhentas, custam caro e cheiram mal”. Crianças são sim barulhentas – que privilégio o barulho de filhos dentro de casa – custam MUITO caro de fato e só começam a cheirar mal lá pelos oito, nove anos, quando o banho se transforma em verdadeiro martírio diário para os pais.
Antigamente filhos eram mais do que necessários. No começo do século 20, no Brasil, sem planos de previdência pública ou privada, os filhos representavam alguma garantia na velhice, além de ajudar a família na roça, na venda, no comércio. As famílias eram unidades de produção, e não de consumo como hoje, e cada novo filho significava uma vantagem econômica – um braço a mais para o trabalho.
É bem verdade que em muitos lugares do Brasil e do mundo, o século 21 ainda não chegou, ou seja, as famílias ainda não representam as tais unidades de consumo.
Na China, especialmente no interior, esse ainda é o principal motivo da resistência à rígida regra do filho único, imposta pelo governo chinês há alguns anos atrás, para conter a explosão populacional do país.
No Brasil a concentração populacional é bem urbana, formada por famílias cujos membros são consumidores. Ou seja, qualquer boca a mais significará maior consumo de produtos e mercadorias. Portanto mudanças no lado das despesas do orçamento das famílias. E não basta apenas aumentar a água do feijão, é preciso suprir a criança adequadamente com saúde, educação, segurança alimentar e financeira.
Uma criança sob nossa responsabilidade significa total mudança no nosso estilo de vida. Elas alteram para sempre a nossa forma de agir e pensar.
E, principalmente, mudam todas as nossas perspectivas financeiras. Portanto, o tamanho da família deveria ser decorrente do planejamento e das disponibilidades financeiras familiares.
Se for o primeiro filho, então, acredite, tudo muda. Nunca mais o casal será ‘dois’, haverá sempre uma outra pessoinha, alterando decisões, criando preocupações e nos remetendo constantemente ao futuro. Possivelmente você ficará menos tempo com seus filhos do que planejava. Em alguns casos terá até que trabalhar mais horas para cobrir as novas despesas. Curiosamente as mulheres brasileiras já sabem disso, tanto que as nossas taxas de natalidade vêm caindo sistematicamente.
É possível quantificar quanto eles custam?
Mais ou menos, depende dos nossos anseios para eles, e em algum momento, dos sonhos deles próprios. Educar um filho do nascimento até a universidade, pode custar algo entre 300 mil a um milhão de reais, dizem os especialistas. Eles costumam incluir nesse valor o custo do dinheiro. Ou seja, o quanto você ganharia se tivesse aplicado esse dinheiro ao invés de usá-lo com um filho.
Atenção a estes itens:
- Reveja seus objetivos financeiros. Muitos deles deixarão de ser prioridades, outros serão adiados, às vezes por muitos anos. Se um dos pais planeja ficar em casa com o filho, a falta da renda proveniente dessa pessoa pode significar um estresse financeiro se não for muito bem planejado. Preocupa, e você já sabe disso, quando a opção de ficar em casa fica com a mulher. O altruísmo pode significar perdas financeiras futuras. Por isso decida por essa ação conscientemente.
- Pense nos seguros que serão necessários e que deverão integrar seu novo orçamento.
- Seguro saúde – caso a empresa onde você trabalha não mantenha um plano de saúde em grupo, proponha isso ao seu empregador, ou então procure uma seguradora certificada e verifique os planos que são oferecidos. Lembre-se de certificar-se de que há cobertura para toda família.
- Seguro de vida – se você não te, faça. Temos que considerar sempre a nossa vulnerabilidade e ninguém deseja deixar uma família desamparada. Considere ainda a possibilidade de complicações, tanto para você, quanto para seus filhos e procure um seguro que tenha cobertura também para deficiência física.
- Caso você já tenha seguros, atualize a sua apólice para incluir o novo membro da família imediatamente. Muita gente esquece desse detalhe. Já vi, em caso de morte, o seguro ir parar na mão de ex-marido, por exemplo. E os filhos e o marido atual ficam a ver navios.
- Comece a planejar mudanças de imóvel. Isso mesmo, quando a família aumenta, quer casa maior. Isso é quase inevitável.
- Converse com os amigos próximos que já tiveram filhos e pergunte sobre despesas com pré-natal, maternidade, fraldas, babás, pediatras, remédios, roupas, sapatos, comida, creche. Eles sempre têm dicas boas: onde as fraldas descartáveis estão mais baratas, o melhor pediatra, o melhor seguro, uma babá que está desocupada, uma folguista que atende bem. E outras necessidades que aparecerão. São os amigos que têm filhos que também podem ajudar você com a lista de despesas possíveis que eu coloquei lá embaixo.
Para quem já achou melhor "tê-los antes de sabê-los"
Coloque-se no lugar do seu filho: o que nós pensávamos sobre o dinheiro na mesma idade?
Sempre pergunto àqueles que me ouvem nas minhas palestras: “Quem aprendeu a preencher um cheque na escola? Quem aprendeu a acompanhar um orçamento? Quem aprendeu física, química, a tal da tabela periódica e teve que decorar aquilo tudo para o vestibular de letras? Aliás, quem lembra disso?”
Estamos falando de conhecimentos essenciais e desejáveis. Quem vive na floresta, como vivem os índios, precisa saber identificar as frutas comestíveis das que não se pode comer. Isso é essencial para a sobrevivência, assim como a identificação de ruídos, a ferocidade dos animais, o conhecimento das plantas que cura, saber fazer pequenos instrumentos como facas, panelas.
Quem vive na cidade grande precisa saber atravessar a rua, identificar ruídos e pessoas mal-intencionadas, saber ler e escrever, para identificar um nome de rua ou a direção de um ônibus, ter dinheiro e saber identificar o valor das notas e moedas, para que elas serve, quanto eu posso adquirir com determinadas quantias. Nenhum de nós tiraria uma nota de cem reais do bolso para pagar uma passagem de ônibus, ou no extremo oposto, para comprar um carro, por exemplo.
Esses são alguns dos conhecimentos essenciais, exigidos pela sociedade moderna. Não há sobrevivência possível sem eles.
Na nossa sociedade atuar no mercado financeiro competentemente tornou-se atividade absolutamente essencial nos dias de hoje.
Outros conhecimentos são desejáveis, como entender tudo o que a jornalista famosa fala no noticiário local. E depois vem o conhecimento inútil. E muita, muita coisa é inútil, mas aqui acho que vou preferir não fazer juízo de valor.
Be, conhecer sobre administração financeira não é mais apenas necessário, como foi no passado, tornou-se absolutamente ESSENCIAL agora.
E cabe a você, pelo menos por enquanto, ensinar seus filhos e netos.
Ensine seus filhos a lidar com o dinheiro
- Abra uma conta no banco para cada um de seus filhos. Eles adoram acompanhar seus saldos pela internet. Crianças preparadas financeiramente estarão fortalecidas para, no futuro, saberem como deverão administrar suas finanças. Escolhas financeiras e decisões conscientes só são possíveis se houver um entendimento muito claro das escolhas e alternativas disponíveis.
- Use momentos em que você tenha que fazer gastos não corriqueiros, como a compra do material escolar, ou a roupa que o filho quer para falar sobre dinheiro, gastos, despesas, orçamento, poupança, uso correto do crédito, juros.
- Nada de cofrinhos. Guardar dinheiro no cofrinho é antiquado e, principalmente, não rende juros. Não dá para adivinhar quanto tem lá dentro, enquanto que o extrato do banco ou a internet permite um acompanhamento. Além disso, muitos sites de instituições financeiras têm áreas específicas para crianças e teens, onde eles aprendem sobre administração financeira.
Algumas possíveis despesas que precisam ser avaliadas
Pré-natal, enxoval, maternidade, alimentação, vestuário, fraldas descartáveis, babás, folguistas, brinquedos educativos, seguro-saúde, seguro de vida, remédios, congelamento do cordão umbilical, vacinas, creche, escola, material escolar, transporte, festas de aniversário (do seu filho e dos amiguinhos), viagens, cursos extras (como inglês, natação, outros esportes), cursinhos pré-vestibular, livros, cabeleireiro, revistas, mesada, CDs, computador, Internet, games, celulares, faculdade, lanches fora de casa, entradas para o cinema e shows variados, CARRO, namoradas(os), a decoração do quarto, o IPod, o animalzinho de estimação, o aparelho de so, o instrumento musical e as aulas particulares, etc, etc.
Isso sem falar em aumento de todas as suas contas: comida, água, luz, gás, telefone, gasolina (essa despesa aumenta muito: até os dezoito anos pelo menos, já que a gente vira motorista deles), IPTU (você mudou para uma casa maior) e IPVA (você comprou um carro maior e depois, quando eles fazem dezoito anos, você tem que comprar mais carros).
Calma, não desista!
Lembre-se de que nossos filhos são nossos verdadeiros TESOUROS. Procure apenas se planejar.
Envolva a família inteira com essas questões. Todos precisam saber de onde o dinheiro vem e para onde ele vai. Ou deveria ir!