09/05/13
Os desafios, as iniciativas e os benef cios da promo é o da educação financeira no Brasil
A educação financeira do brasileiro entrou na lista de alguns dos assuntos debatidos nesta semana no Fórum da Liberdade, que acontece há 26 anos em Porto Alegre (RS). Com o tema geral “O que se vê e o que não se vê”, a palestra sobre Educação Básica – “Quais são as consequências da ignorância?” fez parte da programação e foi uma oportunidade para o especialista em finanças e escritor de mais de uma dezena livros, Gustavo Cerbasi, trazer uma reflexão de como a educação financeira pode ser incluída na matriz básica de aprendizado dos brasileiros.
A primeira constatação do palestrante foi de que não faltam informações, conteúdos e orientações sobre o assunto hoje no Brasil, especialmente, disponibilizadas através dos meios de comunicação. No entanto, há uma lacuna de conhecimentos, que ele caracteriza de ligação, e que estão relacionados a campos como sociologia e filosofia. Segundo ele, são componentes fundamentais à reflexão sobre valores e hábitos de compra que começam em casa. “É muito difícil criar uma educação financeira sem aproximar os pais da escola, como acontecia antigamente”. A sua opinião é que o papel da escola não é educar, e sim disponibilizar as ferramentas.
A visão de Cerbasi é confirmada por uma pesquisa realizada pelo Instituto Rosenfield em parceria com a BM&FBOVESPA no segundo semestre de 2012 e divulgada no início deste ano. Segundo levantamento, 47% dos entrevistados afirmaram que a família, amigos e conhecidos são a fonte principal para decisões financeiras. As outras duas fontes mais importantes, embora com menor peso, apontadas por 15,8% e 13% das pessoas, e respectivamente, são a televisão e a Internet.
De acordo com informações incluídas na apresentação da pesquisa disponibilizadas pela BM&FBovespa, os resultados indicam a importância do uso da internet notadamente para os mais escolarizados e de renda pessoal acima de 5 salários. Esses segmentos constituem os públicos-alvo da Bolsa de valores brasileira, ou seja, são potenciais investidores. “Cidadãos mais escolarizados e de maior renda tendem a ser indivíduos com maior informação e, por isso mesmo, menos dependentes de informações de outras pessoas”, apontam conclusões da pesquisa.
Mas para o escritor, a trajetória desta relação com o dinheiro nas famílias brasileiras é mais importante em um primeiro momento. O consultor lembra que um hábito ainda muito presente dificulta que as pessoas deem o primeiro passo para poderem investir: gastem menos do que ganhem para poupar dinheiro. “A família brasileira tinha o hábito de comprar tudo que precisava rapidamente e fazer estoques devido à alta inflação”. Isso foi há vinte anos diante de um cenário macroeconômico que começou a mudar com o desenvolvimento do plano real e adoção de diversas medidas governamentais.
Em parte, a pesquisa da bolsa já mostra uma mudança de realidade. Mais da metade dos entrevistados na pesquisa da bolsa não conseguem guardar dinheiro. No entanto, jovens da faixa de 18 a 24 anos afirmam guardar dinheiro com objetivos específicos, público que entre os entrevistados alcançou os 36%. O dado é positivo, especialmente, porque esse universo não teve a educação financeira incluída formalmente na sua rotina de educação, seja claramente em casa, até onde é possível constatar, já que são filhos de uma geração que vivenciou a inflação e uma economia brasileira não estável. Ou mesmo na escola.
Há alguns anos, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com a parceria de outras instituições do mercado de capitais iniciou um projeto de inclusão da educação financeira no currículo das escolas, mas não como uma disciplina, e sim relacionada às demais, através da adaptação do material didático. O projeto, denominado de ENEF, começou como piloto em escolas públicas da região sudeste e, até o início de 2013, já havia sido implantado em 400 instituições. Segundo informação do próprio Cerbasi, que acompanha a iniciativa, uma pesquisa feita com pais de alunos do ensino fundamental demonstrou que 65% afirmaram que a experiência que os filhos tiveram foi responsável por promover mudança na rotina das suas casas.
É exatamente esse o ponto inflexão da educação financeira no Brasil, e vai em linha com a tese defendida pelo escritor de que ela deve estar em todas as atividades cotidianas e ter relação com o ensino do valor dos bens e das escolhas. Por isso, outros componentes que devem fazer parte desta equação, na sua visão, são o lúdico e a curiosidade. Uma iniciativa, capitaneada pelo especialista é um exemplo. Junto a Maurício de Souza, criador da Turma da Mônica, desenvolveu o que chamou um kit de valor, com o aspecto “fun” (engraçado), a fim de despertar a curiosidade das crianças leitoras. Desde o lançamento, na metade do ano passado, o material já foi incluído no dia a dia de escolas privadas.