06/06/13
Sustentabilidade come a em casa
Tenho visto a sociedade debater sustentabilidade com foco apenas na escassez futura de água, de verde e de ar limpo. Poré, poucas práticas são tão insustentáveis quanto as tentativas de pessoas e empresas de serem sustentáveis. Afinal, plantar ou abraçar uma árvore é um bom começo, mas raramente esse começo se repete por semanas ou meses seguidos. É como se aquele que plantou uma árvore já tivesse prestado contas com a natureza, voltando a sua rotina de desperdícios e poluição com menor peso na consciência.
Não vejo sentido em uma atividade iniciada e não encerrada, seja você um simples trabalhador, uma grande empresa ou o ministro Cezar Peluso. De sustentáveis, práticas cidadãs feitas uma ou duas vezes na vida têm apenas a inspiração.
Ser sustentável é mais do que fazer um gesto eventual pelo fututo. Sustentabilidade começa em casa, pelo que você fazer para que sua existência não se torne um problema para as demais pessoas neste mundo. Isso tem a ver com como você aproveita a água, a energia, os insumos e os alimentos. Mas, tem também a ver com como você lida com seu orçamento.
Quem lida de maneira desequilibrada com o dinheiro está criando problemas futuros não somente para sua vida, mas também para a vida das pessoas com quem convive. Aqueles que têm dificuldades para poupar serão dependentes da ajuda do governo ou de seus familiares.
Sem cuidar de seu futuro, precisarão de apoio financeiro e comprometerão o consumo dos filhos, forçando-os também a uma situação de privações, de dificuldade de poupar e, consequentemente, fazendo com que também se tornem dependentes da ajuda futura do governo ou dos familiares. É um círculo vicioso.
Quem planeja e poupa o suficiente para viver no futuro com o rendimento do próprio patrimônio deixa de ser um ônus para o Estado. Se gastasse menos com o auxílio às famílias, o Estado teria mais recursos para administrar o interesse coletivo, incluindo a preservação do ambiente e o investimento em tecnologias para a sustentabilidade. Obviamente, essa minha utopia está considerando que, com mais recursos disponíveis, o Estado buscará o interesse coletivo de longo prazo. Hoje isso ainda não acontece.
É curioso perceber que poupar não basta. Aqueles que poupam demais, seja por ganância ou por temor excessivo do futuro, limitam a circulação do dinheiro na economia. Como comércio, indústria e serviços faturando menos, o governo tem que investir pesado em subsídios e políticas de compensação e incentivo. Gastando mais do que deveria com o equilíbrio da sociedade no presente, o Estado está deixando de cuidar do futuro. Ou seja, está deixando de adotar políticas de sustentabilidade.
Costumo afirmar que gastar demais é tão perigoso quanto poupar demais, e isso tem tudo a ver com a construção de um futuro saudável para a economia pessoal e da sociedade. É por isso que a educação financeira não pode se limitar a planilhas, cálculos e simulações de investimentos, como muitas das primeiras experiências nesse campo têm sido praticadas nas escolas. Tenho visto métodos eficientes em transformar gastadores compulsivos em poupadores compulsivos. Infelizmente, um grave erro.
A essência da educação financeira deve ser a busca do equilíbrio, e por isso também deveria ser parte dos esforços de sustentabilidade nas escolas e nos debates. Finanças deveria ser tema de aulas de ciências, filosofia e estudos da sociedade, objetivando educar os jovens para que tenham escolhas mais inteligentes e duradouras. Depois disso, caberia discutir o assunto também nas aulas de matemática. Não é o que vem sendo feito.
No dia em que cada família souber consumir com qualidade, ou seja, maximizando sua satisfação a cada compra, aproveitará melhor o que consome e, consequentemente, consumirá em menor quantidade. Isso naturalmente já contribui para o meio ambiente, sem muito esforço adicional. Nesse caso, se abraçar uma árvore lhe faz feliz, continue fazendo-o, nem que seja apenas pelo seu bem estar pessoal.