16/07/13

Educação financeira, pra qué ?

 Guilherme Mazzotti – economista

Não é surpresa que no Brasil educação financeira não seja o forte do povo. O Brasil não é tecnicamente um país que poupa, basta ver que no levantamento de janeiro da Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC Nacional), realizada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), 60,2% das famílias brasileiras possuem alguma dívida com bancos ou lojas, sendo que 21,2% possuem contas em atraso. Em um país em que o serviço público não é lá grande coisa, a carga tributária é alta e temos que pagar por serviços básicos como saúde, educação, entre outros, não sobra muito dinheiro para poupar.  Ainda assim, o brasileiro quando poupa, geralmente poupa mal. Em 2012 a poupança teve captação recorde, exatamente no ano em que seu rendimento foi alterado significativamente para baixo. Isso significa dizer que foi o pior período para se investir em poupança e mesmo assim nunca se investiu tanto nela.

Este pensamento pode ser justificado pelo cenário de inflação em que vivíamos até vinte, trinta anos atrás. Imagine que os produtos ficavam mais caros de um dia para o outro, já a poupança, por outro lado, distribuía rendimentos da mesma forma. Este cenário, aliado ao desconhecimento de outros produtos, pode dar a ideia de que poupança seria bom um investimento.

Outro investimento comum são os imóveis. Investir em imóveis demanda alto capital, no caso de comprar para revender ou alugar. Já no caso de investir em fundos imobiliários, exige conhecimento tanto de negociação de imóveis como de gestão de imóveis. É válido lembrar que a casa própria muitas vezes é considerada um investimento, quando na verdade é uma despesa. Si, uma despesa, pois você paga pelo imóvel (se for financiado também paga juros), paga os impostos sobre ele e paga a manutenção. Claro que neste meio tempo o imóvel está se valorizando, porém como você ficará morando nele, isso acaba não importando, pois você não troca a valorização por dinheiro. Geralmente quando as pessoas vendem a casa própria é para ir para outra, mais valiosa, e aí o raciocínio segue o mesmo.

Mas a poupança e os imóveis não são investimentos ruins, só devem ser utilizados de acordo com objetivos específicos. E aí entra a educação financeira. Educação financeira poderia ser resumida em três regras básicas: poupar disciplinadamente, diversificar investimentos e começar o quanto antes. Claro que existem outros princípios, porém estes três já podem lhe garantir um retorno interessante. É importante lembrar também que a educação financeira traz os maiores benefícios ao longo do tempo.

 A primeira regra que abordo é a de poupar disciplinadamente. Este princípio é importantíssimo, pois garante a continuidade dos investimentos. Sem ele, não há como obter resultados de longo prazo. O ideal é que se poupe, no mínimo, 10% da renda anual, poré, competindo com este valor a ser poupado, está o crédito facilitado e as inúmeras oportunidades de aquisições que podemos fazer hoje e não podíamos até dez anos atrás. Não é raro ouvir histórias hoje de adultos que fizeram sua primeira viagem ao exterior, por exemplo, nos últimos cinco anos. Aposto que não foi à vista.

A segunda regra é diversificar investimentos. Essa regra é mais difícil do que a primeira, pois exige leitura, informação e certo conhecimento de produtos financeiros, que não parece ser o assunto preferido nas mesas de bar.  Diversificar os investimentos é o que garantirá um retorno atrativo e superior a inflação. Todavia, diversificar exige que saiamos da poupança e entremos em outros territórios, como: tesouro direto, fundos multimercados, fundos imobiliários e até ações. Se você não entende destes produtos, não se preocupe, uma dica é procurar seu gerente bancário e solicitar uma análise do seu perfil de investidor. Existem investimentos de muitos tipos, do mais conservador ao mais arrojado, portanto conhecer  o seu próprio perfil e adequar seus investimentos a ele é importantíssimo e seu gerente ficará feliz em fazer isso por você.  O banco não é a forma mais rentável de se investir, mas é a mais simples e acessível a todos. Caso você deseje melhores retornos em seus investimentos, existem corretoras especializadas no assunto que podem oferecer produtos mais atrativos que os bancos tradicionais. Porém nada, mas nada mesmo, substitui o conhecimento. No primeiro momento a ajuda de profissionais é necessária, quase obrigatória, mas se você buscar entender e conhecer estes produtos, com o tempo você poderá tomar suas próprias decisões e o retorno pode ser maior do que qualquer corretor pode lhe oferecer.

O terceiro princípio, começar o quanto antes, é o mais importante e mais difícil de ser seguido. Isto porque o grande benefício da educação financeira, como dito, é percebido no longo prazo, especialmente na aposentadoria. Não é novidade que nosso sistema público de aposentadoria é deficitário, ou seja, gera prejuízo. Projeções mostram que por volta de 2030 teremos um trabalhador ativo para cada aposentado. Não digo que os jovens não se aposentarão pelo sistema público, porém esta aposentadoria não será suficiente para cobrir os custos de vida. Isso fica agravado se começarmos a pensar que a população está ascendendo classes sociais. Ao subir de classe social, seu custo de vida se eleva, se não houver reservas, corre-se o risco de chegar a aposentadoria e perder qualidade de vida. Justamente o contrário do que prega a aposentadoria, que é aproveitar os louros de anos de trabalho.

Educação financeira é um processo que exige conhecimento e disciplina, muito similar a nossa educação tradicional, tão similar que alguns países, como os EUA, abordam este tema na escola tradicional. Os princípios apresentados são básicos, mas com eles já é possível garantir uma aposentadoria mais tranquila, investimentos com melhor rentabilidade e uma vida financeira equilibrada. É importante lembrar que o dinheiro é parte importante de nossa vida, ele nos possibilita realizar muitos dos nossos sonhos e nos dá segurança de que nosso padrão de vida será mantido. É comum hoje que problemas financeiros afetem relacionamentos, vida pessoal e até profissional, portanto se você vive em família é importante que todos se envolvam no processo, tanto os pais quanto os filhos. Enfi, educação financeira é uma matéria que todos deveríamos dar maior atenção e dedicar alguns minutos de nosso dia para aprender. É como dize, ou você faz seu dinheiro trabalhar para você, ou vai passar a vida toda trabalhando por ele.