30/08/13
Hábitos paternos, curr culo escolar e finanças
Pesquisas recentes sugerem que o hábito de poupar é formado até a adolescência e, em alguns casos, até mesmo antes disso (Webley e Nyhus – 2006). Outro fato registrado na literatura acadêmica é que filhos de casais que têm o hábito de poupar tendem a adotar o mesmo comportamento dos pais durante a vida adulta. O percentual de renda poupando também é uma variável que guarda forte correlação com o que os pais cultivaram ao longo da vida. Ou seja, pais que poupam muito tendem a transmitir tal hábito a seus filhos. Por fi, pais que têm um imóvel próprio, também têm uma maior probabilidade de que seus filhos serão proprietários do imóvel onde residirão na vida adulta (Boehm e Schlottmann – 1999). No tocante ao comportamento financeiro, a influência familiar aparece como um fator determinante, tendendo a perpetuar de certa forma desigualdades sociais e patrimoniais.
Se tais pesquisas estão corretas, que papel resta ao sistema educacional no esforço de dar formação financeira às crianças? Um estudo publicado no Journal of Public Economics (Berheim et al -2001) pesquisou o impacto dos programas de educação financeira lecionados em 37 estados nos EUA. Foram coletadas informações de 2000 pessoas ao longo de 25 anos, confrontando comportamentos financeiros apresentados antes e após os cursos. Três foram os principais pontos analisados: 1) percentual da renda poupada; 2) nível de educação e 3) estado onde a pessoa estudou. O estudo também controlou dados demográficos, sociais e econômicos dos participantes do estudo. Uma última variável acompanhada, e que mostrou-se extremamente relevante, foi o números de anos que o programa de educação financeira estava de pé e integrando o currículo das escolas. Assim, se um aluno começou o curso em 1990 e programa já integrava o currículo desde 1986, essa variável recebe um peso equivalente a 4 (diferença entre as datas).
Como resultado, os pesquisadores obtiveram que, nos estados que incluíram no currículo escolar permanente o curso de educação financeira, o percentual de renda poupado pelos participantes é 1,5 vezes superior ao de alunos de estados onde não se ensina o mesmo curso. Adicionalmente, o efeito dos programas de educação financeira mostrou-se máximo, conforme medido pela evolução do percentual de renda poupado, para crianças oriundas de famílias que no início do estudo não possuíam o hábito de poupar, ao passo que sua influência foi nula para filhos de país que já possuíam poupavam com recorrência. Estas duas últimas observações são animadoras, uma vez que sugerem que a educação financeira nas escolas é capaz de fazer o mesmo papel dos pais na formação dos hábitos financeiros das crianças. Chamou a atenção também que os indivíduos filhos de pais que poupa, chegaram à vida adulta poupando mais que seus colegas de curso (2% a mais da renda em média ao ano).
Estes estudos atestam que a educação financeira transmitida durante a infância e adolescência tem uma influência de longo prazo sobre o comportamento financeiro das pessoas, favorecendo a poupança e a formação de patrimônio ao longo do ciclo de vida. A relevância de tais dados para a política econômica e educacional não são desprezíveis, principalmente para países de baixa taxa de poupança, como o Brasil. Iniciativas nessa direção finalmente começam a tomar corpo por aqui, como ilustrado pelo ENEF (Estratégia Nacional de Educação de Financeira), uma iniciativa do governo e entidades de mercado para levar o tema às escolas públicas. Esses são apenas os primeiros passos e bem mais pode e deve ser feito. Por exemplo, pode-se contar nos dedos os casos de escolas privadas que possuem em seus currículos o tema educação financeira. Para os pedagogos dessas instituições ficam os dados contundentes acima para reflexão e incentivo a inclusão do tema em seus programas de ensino. Seria uma forma relativamente simples e eficiente de causarem um impacto positivo sobre o futuro econômico de seus alunos e, em uma perspectiva mais ampla, para a economia do país. Para pais e responsáveis, fica o alerta do impacto que suas atitudes, ainda que aparentemente imperceptíveis, têm na formação dos hábitos financeiros e na capacidade de conquista de independência financeira de seus filhos.