06/09/13
Nossa cré nica incompetância ao planejar
”Em vez de buscarmos o certo, apenas evitamos o errado.”
Todo fim de abril, milhões de brasileiros deixam a entrega de suas declarações de imposto de renda para a última hora, causando sobrecarga nos sistemas da Receita Federal, nos escritórios de contabilidade e na pressão arterial de todos os envolvidos.
Poucos compromissos são tão previsíveis e planejáveis quanto a entrega da declaração. Eu não sei, por exemplo, quando receberei o carnê do IPTU ou a cobrança do IPVA. Sei que devo me preparar para esses tributos em janeiro, mas se minhas férias se prolongarem eu corro o risco de pagá-los em atraso.
Com o imposto de renda não é assim. Sabemos que por volta do dia 1º de março de 2014 a Receita Federal disponibilizará a nova versão do programa para declaração – em 2013 saiu uma semana antes – e que em 30 de abril se esgotará o prazo para entrega.
Nossa declaração do ano que vem poderia ser organizada desde o início deste ano, com o simples arquivamento dos documentos comprobatórios de renda e de gastos. O programa da declaração deve sofrer poucos ajustes de um ano para o outro, o que permite que saibamos exatamente o que fazer até lá. Com documentos organizados, bastam uma ou duas horas de preenchimento dos dados no programa, mesmo porque a maior parte das informações necessárias é automaticamente importada da declaração do ano anterior.
A Receita Federal investiu pesadamente para que o programa funcione sem bugs, para que a transmissão seja rápida e para que o arquivamento de comprovantes seja simples. Mesmo assim, milhões de pessoas perderão a janela de um ano para se organizar e de sessenta dias para entregar, e deixarão para reunir e levar a papelada a seus contadores no último dia. Se não levarem multa pelo atraso, gerarão custos e retrabalho ao fazer a declaração retificadora.
Deixar para a última hora não é exatamente o problema. Eu mesmo entreguei a minha na noite do dia 28, dois dias antes de vencer o prazo. Mas, a escolha foi estratégica: com a declaração preenchida desde o início de março e com restituição a receber, preferi ficar para o final da fila e aumentar minhas chances de ser um dos últimos a receber. Afinal, enquanto a restituição não sai somos agraciados com correção monetária pela Selic e sem nenhum tributo sobre esse lucro. Sem dúvida, um bom investimento em renda fixa.
Mas, as imagens flagradas pelo jornalismo, mostrando contribuintes desesperados levando pilhas de papel para seus contadores no último dia não é estratégia de lucro. É desorganização mesmo. Quanto maior o prazo que nos é concedido, maior é a chance de o perdermos.
Em vez de buscarmos o certo, apenas evitamos o errado. Os milhões de atrasados poderiam planejar a declaração com calma, estudar as possibilidades de restituição ou de abatimento, doar os recursos a causas sociais que permitem dedução integral do imposto e fazer a declaração por conta própria, com domínio de sua situação. No lugar, preferem confiar seus papéis mal organizados a um contador trabalhando sob a pressão do tempo, provavelmente o mínimo possível e necessário para enquadrar a declaração em um mínimo de legalidade. Se você está entre os atrasados crônicos, pode estar perdendo um bom dinheiro.