Educação financeira para crian as
As crianças da atualidade já sofrem com os apelos do mundo do consumo. Nesse cenário, o conflito entre querer, poder, merecer e precisar se mistura na vida do pequeno e pode explodir em um caos momentâneo. Quem nunca viu uma criança chorando em uma loja, porque queria determinado objeto? Esse tipo de situação é o sinal de alerta que algo não vai be, um alarme que soa e faz com que os pais despertem para a educação financeira dos filhos.
Se você tem uma criança na sua vida e já passou por essa situação, relaxe. Esta cena é comum no desenvolvimento humano, afinal, as crianças são mestres em testar limites. Aproveite esse momento para repensar os conceitos ligados ao uso do dinheiro na família.
LIÇÕES FINANCEIRAS COMEÇAM DESDE CEDO
Recebemos as primeiras lições de educação financeira em casa: as recomendações de fechar a torneira ao escovar os dentes, apagar a luz dos ambientes vazios e comer toda a refeição para não desperdiçar os alimentos. Esses ensinamentos se transformarão na bagagem de conhecimentos facilitadores das decisões financeiras no futuro.
A ideia também é perceber se você tem atuado de forma ativa na educação financeira infantil. Comece com as seguintes perguntas:
- Como é o dia-a-dia do pequeno?
- Que tipo de programação faz com a criança?
- Como utiliza as horas de lazer?
- Como são encaradas as compras em casa?
- Como falamos sobre dinheiro em família?
Hoje o consumo confunde a cabeça das crianças, que gostam de opinar sobre tudo. Muitas vezes isso acontece porque, nas horas livres, os pais querem a companhia dos pequenos em todos os programas. Cuidado, caso a criança comece a se transformar em uma tirana ou num comportamento "pede-pede".
DIZER "NÃO" É PRECISO
Mas o que fazer quando o pequeno aponta para algo e pede? Nesta hora, o adulto deve desempenhar o seu papel e determinar a diferença entre querer e precisar. Faça um carinho na criança e saia com ela do ambiente. Logo ela vai distrair e esquecer a situação. Pode ter choro, mas esse momento também pode ser permeado com criatividade, amor e senso de humor por parte do adulto. Veja essa pequena birra como a primeira forma de conquista, imposição de vontade. Ao crescer, a criança levará consigo as lições sobre "querer" e "precisar", que aprendeu com seus pais ao longo dos anos. O consumo será algo natural e os apelos serão equilibrados com o treino emocional recebido na infância. Afinal, compramos mais com o coração do que com a razão.
As facilidades do cartão de crédito chegaram ao mundo infantil, e o dinheiro plástico e virtual também confundem a cabeça dos pequenos. Durante a infância, o dinheiro é para a criança um elemento facilitador, uma mágica que realiza sonhos e traz para as mãos tudo que elas mais almejam. Os pequenos entendem o que é o dinheiro em espécie, as notas e as moedas, mas o cartão é algo ligado à mágica de consumir por consumir.
EDUCAÇÃO FINANCEIRA NA PRÁTICA
É importante ensinar primeiro o que é dinheiro, de forma real e palpável. Logo o pequeno mudará o formato da pergunta e você ouvirá frases do tipo: "mãe, podemos comprar isso hoje? Como fazer para economizar primeiro e só depois gastar?". Uma sugestão é colocar na sua casa um recipiente, que pode ser apelidado de "pote da alegria". Procure um pote de vidro deixe-o em um local visível. Depois, deposite diariamente as moedas que representam as economias. As crianças começarão a sentir o dinheiro como algo real, que deve ser economizado e guardado). Ensine ao pequeno que há um tempo de espera para juntar a quantidade certa e depois gastar o dinheiro. Na hora de contar as moedas, eles descobrirão o valor de cada uma.
As crianças com mais de quatro anos podem ganhar uma carteira, na qual as notas serão guardadas. Ensine que elas devem pagar e esperar o troco, a operação deve ser feita com calma e cuidado. Que tal comprar um sorvete ou algo bem simples para começar? O momento de gastar as economias deve ser acompanhado de uma pequena comemoração. Muitas pessoas na fase adulta sofrem por não terem o hábito de celebrar suas conquistas.
Neste treino com as finanças, o ponto importante para o sucesso é combinar com as crianças, com antecedência, tudo que vocês pretendem fazer. No futuro, isso se transformará em planejamento estratégico de vida. Assim, antes de sair de casa combine com as crianças qual será o objetivo da programação.
Dia de passear significa que é momento de se divertir. Nada de misturar compras com passeio. As crianças adoram surpresas e encontrar ambientes novos, desde que tenham guias preparados. Pesquise em sua cidade eventos que não envolvam consumo, mas pura diversão, arte e cultura. Está na hora de visitar um museu, um parque de exposições ou qualquer local para ser admirado e que não dê espaço para as compras. Já o dia de comprar deve ser encarado com responsabilidade. Faça um roteiro: primeiro pesquise o produto, mostre à criança duas ou três opções de compra, explique a ela as possibilidades financeiras da família, procure agir com calma e seriedade e, ao manusear o dinheiro, faça com firmeza e não se distraia neste momento. Em pouco tempo as crianças vão trocar a seriedade das compras pela alegria dos passeios.
COMO O DINHEIRO CHEGA EM CASé
As crianças precisam entender como são gerados os recursos financeiros da família. Explique se é fácil ou difícil para cada membro conseguir remuneração por seu trabalho. Ao mostrar que trabalhamos e depois recebemos o salário, ajudamos o pequeno a entender que existe um tempo natural de espera, diminuímos sua ansiedade, desenvolvemos sua autoconfiança e mostramos a dinâmica de geração de recursos.
Uma simples compra em supermercado pode se transformar em uma aula de finanças. Tenha o hábito de sempre carregar uma lista das compras, pois as crianças associam a lista às necessidades de consumo básico. Caso não queira comprar algo que pedem e não tenha utilidade, basta ser claro e dizer que não está na lista.
Você sabia que as crianças bem pequenas não conseguem entender o processo de colocar as coisas em um carrinho e depois pagar no caixa? Por isso, grande parte delas agarra os produtos pela cor, formato da caixa ou simplesmente por ter reconhecido os mesmos. Nesses casos, leve os menores para pequenas compras, em um horário que não estejam cansados ou com fome.
Sabemos que as guloseimas estão no departamento dos deslizes de comportamento. Por isso, estabelecer uma "caixa da alegria" é outra boa dica. Antes de sair, veja o que sobrou na caixa e, assim, poderão comprar no supermercado o que está em falta. Isso ainda ajuda no treino de não comer fora de hora. A hora de usar a caixa será um momento muito gostoso e relaxante. Ensine desde pequenos a arte de degustar, sentir aromas e sabores e não comer por comer. A educação alimentar caminha da mesma maneira.
COMPRAS EXIGEM PACIÊNCIA
A sustentabilidade pode ser inserida de forma singela na rotina diária. Basta ensinar as crianças a comprar o que precisa, na quantidade necessária, sem prejudicar o hoje e o amanhã. Mas a pressa parece ser o mal do momento. Normalmente vemos crianças manuseando algumas tecnologias, mas observe como logo ficam impacientes com figuras estáticas de uma revista. A pressa faz com que todos paguem mais caro pelos bens e serviços.
É nessa hora que entra a educação financeira familiar que carregamos no inconsciente. Ela esclarece e direciona o modo de agir em qualquer idade. Determina o que vamos consumir, o preço, as possibilidades e o plano de ação. Todos esses rituais ficam marcados no inconsciente da criança.
Os hábitos, os princípios e a educação recebida em casa serão o ponto forte na formação do pequeno consumidor. Serão a bagage, a fonte criativa de nossos mapas internos. Educar é um processo longo, lento, incansável e de muito amor. Coloque planejamento, acompanhamento, comprometimento e, acima de tudo, objetivos claros e bem definidos quando o assunto for dinheiro. Isso vale para qualquer idade.