01/08/14
Carros: precisamos (mesmo) trocar tanto?
As trocas sucessivas de carro geram altos impactos financeiros. Como temos os carros mais caros do mundo, ao pensarmos no bolso, é interessante ficar com o mesmo veículo pelo maior tempo possível. Mas será que os brasileiros pensam dessa forma?
A resposta é um imenso “NÃO”. Aliás, no sentido completamente oposto, a nossa população é aquela que, para espanto geral, mais troca de carro no mundo. Em recente estudo, noticiado no InfoMoney, foi demostrado que o ciclo de propriedade por aqui é apenas 1,7 ano.
De acordo com a notícia, no Reino Unido e nos Estados Unidos a média é de três anos. Veja bem: nos Estados Unidos, com todas as suas condições de consumo totalmente diferentes que dispensam comentários, o tempo de permanência é maior do que no Brasil. Evidentemente, isso não faz o menor sentido.
Nesse ponto, recordo-me de uma conversa com um amigo cientista que foi viver nos EUA. Ele comentou sobre a dificuldade de achar carros “seminovos”, semelhantes aos do Brasil. Por isso, acabou comprando um carro com mais de 100 mil milhas rodadas. Claramente, o desequilíbrio está por aqui, e não lá.
1. A mentalidade do consumidor brasileiro
Inicialmente, lembro também de um inusitado caso pessoal ocorrido no passado. Ao dar carona para uma amiga, ela comentou que havia trocado seu carro porque estava “velhinho”. Curiosamente, ela não sabia que um dos meus automóveis era do mesmo modelo, mas de uma geração anterior. Isso significa que o meu era mais antigo do que aquele negociado por estar, supostamente, ultrapassado.
Realmente as pessoas tendem a trocar os carros muito cedo no Brasil. E a maioria dessas mudanças não são fundamentadas em razões plausíveis, que deveriam estar relacionadas com as necessidades efetivas de um novo carro.
Em parte, existe uma influência histórica baseada na época anterior à “abertura comercial” dos anos 90, na qual os veículos costumavam apresentar muitos defeitos e necessitavam de diversos reparos com quilometragens mais altas.
Mas essa realidade mudou e, embora ainda existam muitos carros de qualidade questionável à venda, houve uma evolução significativa com a chegada de outros com padrão mais elevado. Nesse ponto, é importante destacar que um carro de qualidade e, principalmente, bem conservado pode durar muito tempo.
Para ilustrar com um dado concreto, ao ser lançado um câmbio de dupla embreagem para equipar alguns modelos de uma fabricante no país recentemente, foi comentado que sua durabilidade era prevista por toda a vida útil, estimada em 10 anos ou 240 mil km.
É claro que não podemos nos esquecer das condições de tráfego e combustível complicadas no Brasil, mas esses números apresentados como parâmetro mostram claramente o quanto são excessivamente antecipadas a maioria das trocas.
2. As trocas emocionais
Não é novidade que, ainda mais no Brasil, o carro é lamentavelmente identificado como sinal de status. Como bem posicional, a imagem conta bastante para a maior parte dos consumidores.
Atentos a esse comportamento, o mercado e as fabricantes exploram bastante essa vinculação do ego aos carros. Por isso, a maioria das ações no desenvolvimento dos veículos e nas campanhas publicitárias são focadas em aspectos emocionais.
Em relação ao design dos carros, há uma série de estratégias que impulsionam as trocas. Por exemplo, há reformulações e lançamentos frequentes com o objetivo de criar a sensação de novidade. Destaque-se que essa sensação pode ser apenas aparente, nos casos de facelift ou meras mudanças estéticas.
Dessa forma, a imagem do carro torna-se antiquada aos padrões e tendências mais modernos, o que leva muitos consumidores a trocá-los, mesmo que ainda apresentem ótimas condições de funcionamento.
3. As trocas e o seu Bolso
Como foi dito, a maior frequência de trocas gera elevados impactos financeiros. Há algum tempo, foi publicado um estudo mostrando os claros benefícios financeiros da opção por manter o veículo por mais tempo.
Por falar em tempo, também é importante avaliar o tempo despendido e a energia mental e física relacionadas ao processo da troca, que pode ser ainda mais complexa quando ocorre a opção de vender o carro atual para depois comprar o novo.
Por conta disso, a principal dica é procurar escolher muito bem o seu carro no momento da compra, optando por um modelo de qualidade. Em seguida, deve-se realizar a manutenção da melhor forma possível para assegurar uma maior durabilidade.
Conclusão
A realidade da economia e dos carros no Brasil, considerando os elevadíssimos custos de aquisição e manutenção, tornam surpreendente e espantosa a afirmação de que os consumidores brasileiros são recordistas nas trocas.
Você, leitor e leitora do Dinheirama, que dá importância para as suas finanças e para a construção do patrimônio, provavelmente pensa da mesma forma. Aliás, isso é o que constato nos comentários e nos contatos com aqueles que procuram minha orientação pessoal na consultoria automotiva Carro e Dinheiro.
O fator-chave para poder ficar com um carro por mais tempo é justamente a realização de uma escolha consciente no momento da compra. Afinal, há carros que realmente são verdadeiros caminhões carregados de problemas e, diante dessas amargas surpresas, o único caminho é mesmo o da troca.
Agora, por outro lado, se você estiver satisfeito com o seu carro, pensando no seu perfil de uso e na qualidade, segurança e economia, ficará mais fácil poder planejar a troca no momento em que você definir como adequado, não sendo “forçado” a antecipar uma mudança por conta de outros fatores.
Finalmente, sugiro que você imagine a seguinte situação: como seria a sua vida se você adiasse as trocas dos seus carros por alguns anos? Será que isso permitiria uma sobra de dinheiro para gastar e investir em outras prioridades? Seria possível viajar mais, por exemplo?