As coisas podem piorar, e d ?
Não entre em pânico. Crises são previsíveis. Aliás, são necessárias, para corrigir os exageros na euforia.
Escrevi este artigo antes de saber do resultado das eleições na Grécia. Não fui, portanto, influenciado pelo humor de mercado, por análises catastróficas ou pelas imagens de clientes enfileirados nas portas de bancos gregos na esperança de sacar seus últimos euros. Ou, talvez, nada disso aconteça -e o euro continue vigorando na Grécia. Os próximos dias dirão.
O fato é que as coisas podem piorar. Se você tem ações na Bolsa, elas podem cair por causa da possível correria de investidores estrangeiros para se desfazer de papéis brasileiros. O mesmo vale para fundos de ações, fundos multimercado, planos de previdência compostos e qualquer outro investimento cuja estratégia confia na renda variável.
Sua viagem para a Disney pode ficar mais cara, devido a uma possível alta do dólar, decorrente da possível fuga de capitais de países emergentes. Imóveis podem se desvalorizar por um possível esfriamento da economia.
Pergunto-me: e daí? Você vai entrar em pânico? Não deveria. Crises são previsíveis. Aliás, são necessárias, para corrigir exageros na euforia. Toda economia funciona em ciclos, alternando momentos de alívio e alegria com momentos de apreensão e recessão.
Deveríamos estar, de certa forma, preparados para crises. Afinal, não sabemos quando, mas é certo que acontecerão.
Já passamos por isso antes. Talvez você já tenha se esquecido do temor em relação às consequências da votação de 2002, que elegeu Lula presidente. As pesquisas diziam que subiria ao poder a temerosa e radical esquerda, que se opunha a qualquer causa governista, que iria acabar com o Plano Real, tomar o patrimônio privado, acabar com as empresas, colocar o bode na sala e comer as criancinhas. Ao menos, essa era a imagem que passava a ala mais apavorada do mercado.
As coisas poderiam piorar muito em 2002. Mas não aconteceu. Reinou o bom senso. Trapalhadas e corrupções à parte, como acontece em qualquer governo, Lula assumiu e, simplesmente, governou. Independentemente de quem foi eleito na Grécia, é bom lembrar que valeu a escolha da maioria. Os eleitos irão governar para essa maioria, a despeito de trapalhadas e corrupções que também acontecem por lá.
Se a crise nos mercados financeiros se agravar, será motivada principalmente pelos apavorados especuladores, que querem resultados rápidos. As coisas podem piorar para cada um de nós. Os importados podem ficar mais caros, a mala de compras nos EUA deve voltar mais leve, empregos podem estar em risco, investir pode passar a ser mais trabalhoso nos próximos meses.
Pergunto: você não se preparou para a crise? Não criou reservas para emergências, caso sua empregabilidade não seja das melhores?
Falta aos brasileiros a capacidade de planejar o fracasso. Todos deveríamos ter um plano B, para lidar com as prováveis viradas de cenário. Não deveríamos concentrar demais investimentos na renda variável. Afinal, o que nos enriquece é saber ter liquidez -dinheiro investido em renda fixa- quando surgem as oportunidades de comprar barato, como nas crises.
O dólar subiu e a viagem ficou inviável? Por que você não garantiu a viagem antes, se queria mesmo viajar? Por que ainda não tem planos para uma viagem em reais, para a possibilidade de o dólar subir? Altas e baixas no dólar são a regra, não a exceção.
A crise na Grécia pode fazer as coisas piorare, sim. Mas não exagere no medo. Mudanças econômicas influenciam menos as famílias do que imprevistos cotidianos. Se, ao sair para jantar com amigos você for convidado para ser padrinho de casamento, suas finanças podem se desequilibrar bem mais do que pela alta do dólar. E ainda não está preparado para isso? Qual o tamanho de sua reserva emergencial?
Tenha em mente o comportamento cíclico da economia. A Grécia é o berço da intelectualidade, não a cova do mundo. Se a fuga de capitais for muito grande, o governo vai ampliar pacotes de estímulo para a indústria. Se o dólar subir demais, os tributos sobre saída de capital podem ser relaxados. Se a inflação subir, a Selic pode virar, e a antiga regra da poupança voltar a valer.
A bonança voltará, só não sabemos quando. Você estará preparado para isso?
Fonte: Folha UOL – Gustavo Cerbaci