Como o home office impacta seu cérebro
O home office, ou teletrabalho segundo a fria letra da lei, já faz parte do cotidiano de boa parte dos brasileiros economicamente ativos durante a quarentena. O espaço físico entre sua cama e o ‘escritório’ encurtou dramaticamente, e seja lá o que sua baia de trabalho se transformou na transição para o lar certamente se confunde com o mesmíssimo espaço que você usa para lazer – ou decompressão, se o linguajar corporativo for mais sua praia.
Tudo isso, claro, tem impactos no nosso psicológico. O efeito de trabalhar em casa implica também em uma vida social menos ativa e menor contato pessoal, que se junta a outros fatores. A revista científica The Lancet publicou recentemente uma revisão de artigos e estudos sobre os efeitos psicológicos da quarentena durante a epidemia da SARS (Síndrome Respiratória Aguda), em 2002. O levantamento apontou que 29% das pessoas apresentaram estresse pós-traumático (TEPT) e 31% tiveram depressão após o isolamento.
Para Priscilla Bencke, especialista em neurociência aplicada à arquitetura da Qualidade Corporativa Smart Workplaces, um uso inteligente do espaço pode ser fundamental para diminuir os efeitos mentais do home office sob a pandemia. “Precisamos ter consciência de que somos impactados pelos ambientes que frequentamos, principalmente, por meio dos nossos sentidos. Consequentemente isso vai influenciar no nosso comportamento. Podemos, por exemplo, criar sensações agradáveis por meio da decoração, para que as pessoas da nossa casa sintam-se acolhidas nesses ambientes, bem como usar um aromatizador relacionado com a natureza, pisar na grama e ouvir músicas que te façam sentir mais calmo”, explica Priscilla Bencke.
Vale inclusive preparar ambientes e situações dentro de casa que proporcionem memórias positivas para a família, apesar do cenário de muita dificuldade. Dados de uma pesquisa do Happiness Research Institute, da Dinamarca, pode nos ajudar a entender melhor esse cenário. Um estudo realizado por eles pediu às pessoas que descrevessem uma memória feliz. Nas respostas foram identificados alguns padrões em quase todas as devolutivas, sendo 62% delas tendo ligação direta com aspectos multissensoriais e 56% emocionais. “Essa fase da quarentena vai ficar marcada na memória das pessoas, mas a decisão sobre como isso vai ser lembrado depende da emoção que cada um de nós vai dar para esses momentos em família. Se conseguirmos oferecer espaços multissensoriais em casa, por exemplo, podemos trabalhar isso de forma estratégia e contribuir com a formação de memórias positivas”, explica Priscilla., que sugere seguir a cartilha abaixo:
Natureza e a iluminação natural
Se um ambiente está com pouca luz, por exemplo, a vista ficará mais cansada, podendo causar dores de cabeça e estresse. Por esse motivo, ao escolher a iluminação do ambiente de trabalho observe o quanto será necessário de luminosidade para a prática da atividade. “A luz branca, por exemplo, evita o sono. Obviamente, quando estamos um longo período de tempo sobre essa luz não vamos conseguir relaxar nosso corpo”, explica a arquiteta. Apesar da iluminação natural contribuir para o combate ao estresse, o seu excesso também pode causar o efeito contrário. “Temos que cuidar ainda para que os raios do sol ou a claridade não prejudique a visibilidade quando estivermos no notebook ou na TV, pois isso pode gerar dor de cabeça e, consequentemente, influencia no estresse”, alerta Priscilla.
Outro detalhe importante é sobre quem permanece muito tempo em ambientes fechados com ausência de luz natural. Segundo Priscilla Bencke, ficar por longos períodos nesses locais faz com que a pessoa não perceba o passar do dia, desconectando-se do seu relógio biológico. Como resultado pode haver uma dificuldade maior na hora de descansar ou dormir, ocorrendo a temida insônia e que impacta diretamente na produtividade e na saúde. Janelas com vista para a ‘natureza’ ajudam nesse ponto e contribuem, inclusive, para diminuir a frequência cardíaca e reduzir as questões de estresse.
Além disso, muito cuidado com os ruídos. Eles são os principais vilões de qualquer ambiente de trabalho. “É impossível se manter concentrado com o barulho. Pesquisas mostram que diminuímos 40% da capacidade de produção com a presença de barulhos externos. Além disso, a previsão é de que os erros aumentem em quase 30% devido às distrações em ambientes com a presença de ruídos. Como a família toda estará em casa é muito importante buscar um espaço mais reservado para trabalhar”, indica Priscilla.
Ergonomia
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 40% das dores lombares resultam em problemas mais sérios, causando incapacidade funcional e diminuição da produtividade. Por isso, outro detalhe importante é em relação aos mobiliários utilizados. Apesar de ser um home office temporário – para muitos – é fundamental alguns cuidados.
“O ideal para um ambiente de trabalho home office é escolher cadeiras que possuem pelo menos três funções básicas: regulagens de alturas do assento e do braço, além de encosto com o apoio para a lombar. Caso a pessoa não tenha esse tipo de cadeira em casa ela pode escolher um assento que permita encostar a lombar na cadeira e deixar a coluna reta. De preferência, que tenha apoio para os braços. E fique atento aos seus limites físicos, como os de postura, e até mesmo psíquicos, evitando transformar o excesso de trabalho em estresse, bem como muitas horas na mesma posição”, indica a arquiteta Priscilla Bencke.
Outra dica é sobre o uso do notebook. Muitas horas de trabalho podem gerar desconfortos físicos. “Para evitar que esses problemas influenciem na qualidade de vida acrescente um suporte para notebook com mouse e teclado externo. Dessa forma, vai ser possível trabalhar em uma postura adequada sem queixas e com mais produtividade. Quem não tem o suporte para notebook pode utilizar temporariamente livros para criar uma altura que deixe o notebook na direção dos olhos, permitindo uma postura correta”, aconselha Priscilla.
Fonte: GC Globo.com