Educação financeira é acima de tudo um comportamento
Em meio à crise e ao desemprego, é fundamental saber se planejar financeiramente e poupar sempre que possível. A falta de planejamento pode levar a um situação de “bola de neve”, onde as dívidas vão se acumulando e o devedor não consegue vislumbrar uma forma de sair do sufoco. Em julho, o número de inadimplentes no Brasil bateu recorde e chegou a 61,8 milhões de pessoas.
O estudante Mateus Fernandes se sustenta com a bolsa do estágio e conta como é importante se planejar, especialmente quando são recursos escassos para muitas necessidades. “Aqui em casa eu sou responsável pelas minhas contas, então procuro, ao máximo, diminuir os gastos. Meus pais são separados e, atualmente, minha mãe está desempregada. Isso também implica no meu planejamento financeiro. Muitas vezes aparecem uns gastos fora do planejado, aí preciso recorrer ao meu pai. É muito difícil você conseguir sobreviver com um auxílio financeiro tão baixo. Precisamos viver se policiando 24 horas pra não fazer alguma compra que venha comprometer seu dinheiro todo”, diz.
Mateus conta como organiza sua vida financeira. Todo início de mês, ele faz as contas daquilo que está devendo pra conseguir pagar sem ter problemas. “Procuro não fazer muitas compras e, quando faço, procuro dividir no cartão em suaves prestações, até onde vai sem juros. Tenho algumas contas fixas como, por exemplo, o carnê de formatura. Então já deixo reservado o dinheiro dessa conta separado. Faz bastante de tempo que não saio aos finais de semana por falta de dinheiro. Quem é estagiário sabe que a remuneração é muito pouca. Eu, por exemplo, recebo abaixo do meio salário”, conta.
A especialista em educação financeira Marielle Baía diz que o brasileiro não tem o hábito de se planejar financeiramente e isso não é necessariamente culpa das pessoas, mas é preciso fazer algo. Ela conta que já existem pesquisas que comprovam que 30% do que consumimos é desperdício. “As pessoas não foram educadas e não sabem como lidar com o dinheiro. O ideal é que quem não tem educação financeira busque ajuda, tenha direcionamento e mude seus hábitos. Educação financeira não é só matemática, é comportamento”, destaca.
Segundo Marielle, a sustentabilidade financeira “vai além de simplesmente saber criar uma planilha”. Isso faz parte, mas tem a ver com o hábito de planejar e poupar. Ela afirma que é preciso tomar consciência das próprias deficiências nesse aspecto, fazer um diagnóstico da vida financeira pra poder alcançar os seus objetivos e não ficar no vermelho. “É frustrante trabalhar o mês todinho pra chegar no final do mês e não saber o que fez com o salário [porque foi gasto só com contas]”, diz.