Educação financeira na escola impacta na vida de toda família, diz pesquisa
Muitas escolas brasileiras têm implantado a educação financeira nos seus currículos. Isso tem feito com que os filhos participem mais no orçamento doméstico. Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Educação Financeira (AbefinN) comprova esta relação estreita entre as finanças familiares e os conhecimentos financeiros aprendidos na escola pelos filhos.
O presidente da Abefin, Reinaldo Domingos, explica que sempre soube da importância da educação financeira nas escolas e de seu impacto em todos que se relacionam ao processo educacional: professores, pais e alunos. “Mas era necessário provar isso em números, por isso a importância da pesquisa que demonstra que a vida financeira de toda a família é impactada quando o filho tem essa aprendizagem”, diz.
Quando os pais são perguntados “Se a partir de hoje você não recebesse mais o seu ganho mensal (salário), por quanto tempo conseguiria manter o seu atual padrão de vida?”, os entrevistados cujos filhos recebem educação financeira responderam que conseguem ficar mais tempo nessa situação. Nessas famílias, 73% afirmaram que conseguiriam sobreviver até seis meses, 25% acima desse período, só 2% viveria apenas um mês. Já entre os pais de crianças que não estavam recebendo educação financeira, 44% conseguiria viver um mês, 53% até seis meses e apenas 3% acima de seis meses.
Os pais também foram perguntados se filho/ filha participa das discussões relacionadas a finanças da família e 100% dos entrevistados cujos filhos estão recebendo educação financeira responderam que sim, que os filhos entendem e opinam. Apenas 11% dos entrevistados responderam sim entre os que os filhos não têm educação financeira.
A pesquisa foi realizada em 2017 e foram ouvidos pais de crianças com idade de 4 a 12 anos, das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Goiânia e Vitória, em escolas particulares adotantes e não adotantes de programas de educação financeira; 81% dos entrevistados foram mães, 11% pais e 8% cuidadores. Já 51% dos alunos eram do sexo feminino e 49% do sexo masculino.
A partir do levantamento, o presidente da Abefin espera que escolas e pais se conscientizem da importância do tema, que é obrigatório pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “Muito já está sendo feito, a exemplo da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), mas há um caminho longo a ser percorrido para que todas as escolas adotem o tema, que ainda enfrenta preconceitos”, diz.
Escolas adotantes
No Colégio Emmanuel Kant, que tem unidades nos bairros do IAPI e Caixa d’ Água, em Salvador, crianças de 6 a 10 anos aprendem a lidar com o dinheiro em um projeto de leitura implantado na escola, que adotou o livro “Menino do Dinheiro”, de Reinaldo Domingos, trabalhado ao longo das unidades. “A gente trabalha de acordo com a idade da criança. O livro ensina três passos: sonhar, poupar e realizar o sonho”, explica a coordenadora pedagógica Marcilene Almeida.
Em uma das atividades, cada aluno traz de casa um lanche para ser comercializado em uma feira gastronômica. Todo o dinheiro arrecadado com as vendas dos itens é destinado à realização de um sonho traçado por cada um, como, por exemplo, comprar algo que goste. “A atividade permite que os alunos utilizem as questões de matemática, noções de troco e lucro, o quanto cada um gastou e o dinheiro que conseguiu gerar”, relata.
De acordo com a coordenadora, os pais das crianças contam o quanto os filhos levam o aprendizado financeiro para dentro de casa. “Há relatos de pais que os filhos desligam a luz para a conta vir mais barata, evitam demorar no banho e fechar a torneira para economizar água, quando vão ao mercado buscam os produtos em promoção, e no lanche já preferem as frutas, pois além de mais baratas que a pizza, por exemplo, são mais saudáveis”.
Iago Gentil, 9, adora futebol e o seu sonho é conhecer a Itália na Europa onde joga o seu ídolo, o goleiro Buffon. Para realizar o objetivo, Iago sabe que precisa economizar e mostra que aprendeu a lição. “Eu ganhei na feira 24 reais vendendo empanada. E em casa, eu junto [dinheiro]. Não compro besteiras e nem brinquedos”, conta o garoto, bem determinado.