Educação Financeira: uma escola para ensinar a olhar o presente e o futuro
Para a psicé loga Luciane Fagundes, professora de Psicologia Econé mica no MBA em Previdência Complementar da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), os dilemas da previdência, sob a é tica do consumidor, podem ser vistos sob dois aspectos principais: o vié do presente e a falta de visão sobre o futuro. Ao se aprofundar no tema, Luciane acabou virando uma referência sobre Psicologia Econé mica, educação financeira e previdencié ria. Também consultora da empresa Mirador Atuarial, a psicé loga participa do projeto Oficina do Futuro, criado pela Icatu Seguros para o Sicredi, que propõe uma abordagem nova para o mercado, com o desenvolvimento de estraté gias sensibilizadoras, apoiadas nos fundamentos da Psicologia Econé mica, para incentivar os cooperados da companhia a fazer as melhores escolhas de mecanismos de proteção contra os riscos de curto e longo prazo, como invalidez e doené as incapacitantes, mortalidade e aspectos como a longevidade, por exemplo. Os dois temas (presente e futuro) são o grande foco desse trabalho.
Para Luciane, o mundo está mudando, e teremos uma sé rie de desafios pela frente. já A expectativa média de vida e o envelhecimento da população vé m aumentando e, em contrapartida, a estrutura das famílias está encolhendo. Diante dessas mudanças, o modelo atual da Previdência Social chegou ao seu esgotamento comenta. Atualmente, 70% dos benefícios pagos pelo Regime Geral da Previdência Social são de até um salário-mínimo. Essas mudanças geram um fené meno social recente e crescente: dos 15 milhões de aposentados hoje, 4,5 milhões continuam na ativa, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estaté stica (IBGE), sendo que mais da metade precisa continuar trabalhando, porque sua renda é insuficiente, ou porque precisa ajudar financeiramente a família.
Se o modelo atual da Previdência Social não acompanha o envelhecimento da população, daqui para frente o desafio será já cada um por si ou seja, cada um será responsável por complementar a aposentadoria oficial para viabilizar a sustentabilidade financeira. já Se quisermos viver muito e viver bem (com qualidade de vida), teremos que ter fé lego financeiro para que nossos recursos financeiros acompanhem os anos a mais de vida que estamos ganhando completa. Apesar desse cené rio, por exemplo, apenas 8,7% da população brasileira possui um plano de previdência complementar, segundo dados da Superintendé ncia Nacional de Previdência Complementar(Previc). já Sob este aspecto, a relação do brasileiro com o seu dinheiro e o seu futuro é de despreocupação e imprevidência. Precisamos planejar o futuro, caso contrário teremos que improvisar e, com sorte, contar com a ajuda de terceiros completa a psicé loga.
Instinto de sobrevivé ncia
As razões pelas quais as pessoas tendem a pensar mais nas necessidades do presente do que nas demandas do futuro remetem a nossos ancestrais mais remotos e é gené tica: o homem das cavernas e o instinto de sobrevivé ncia imediata. Herdamos o imediatismo de valorizar mais o já hoje já em detrimento do já amanhé o que foi necessério durante muito tempo, mas que hoje nos prejudica. já O foco no presente foi fundamental para garantir a sobrevivé ncia dos nossos antepassados. No tempo das cavernas, não havia a possibilidade de estocar e preservar alimentos, e um dos desafios era comer explica a psicé loga Luciane Fagundes, especializada em Psicologia Econé mica.
Esse comportamento, que já foi fundamental, se transformou em um obsté culo a ser vencido nos dias de hoje. Para os brasileiros, o ato de planejar a longo prazo é inexistente, em muitos casos. já Somos movidos pelo desejo e pela busca da satisfação imediata diz a psicé loga. Ela cita estudo da Universidade do Colorado em Boulder (Estados Unidos), que identificou os genes responsé veis pela impulsividade e procrastinação, que significa deixar para depois algo que poderia ser feito no momento. Para Luciane, herdamos uma espé cie de miopia temporal, uma visão encurtada que prioriza o presente e negligencia o futuro. já Poupar hoje para desfrutar algo no futuro é uma habilidade que temos que treinar e nos esforé ar, pois não está nos nossos genes explica a psicé loga.
O exemplo diário da procrastinação está na rotina de quase todo mundo, em expressões e pensamentos como já ainda tem tempo já ou já no mês que vem eu come o já . Isso se aplica ao poupar, ao economizar e ao come ar a investir em um plano de previdência ou seguro de vida também. já é assim que seguimos arriscando o nosso futuro alerta Luciane, que exemplifica com um dos produtos lé deres do mercado de seguros essa tendé ncia de comportamento. Os motoristas, especialmente quando adquirem um ve culo novo, correm para proteger o patrimé nio, porque hé um risco eminente de roubo ou danos em acidentes. Já o seguro de vida ainda é pouco procurado.
já Sabemos, com 100% de certeza, que vamos morrer, mas sé 10% da população brasileira tem seguro de vida. Tememos os riscos, reconhecemos a necessidade de nos protegermos, mas não contratamos produtos de proteção como deveré amos por falta de percep o imediata de necessidade diz ela, lembrando que a teoria do Vié do Presente é tão importante que o estudo de dois psicé logos israelenses, Daniel Kahneman e Amos Tversky, sobre o tema é a razé o pela qual eles receberam o Nobel de Economia de 2002 e ganharam relevé ncia no mundo dos investimentos.