Grandes bancos enfrentam desafio do ajuste de contas
As ações dos grandes bancos sofreram fortes quedas na bolsa de São Paulo. Foi mais um sinal de que o mercado acredita que as instituições financeiras deverão enfrentar um duro processo de ajuste de contas nos próximos anos em função da mudança radical no cenário doméstico. Taxas de juros menores, achatamento dos spreads e expansão mais lenta das carteiras de crédito representam uma nova realidade para o setor. O Bradesco surpreendeu o mercado ao cortar pela metade as taxas de juros dos cartões de crédito. Onte, o Itaú Unibanco, que também já havia cortado suas taxas, anunciou que até o fim do ano vai reduzir os juros cobrados em todas as operações de cartão para um dígito.
Essas mudanças levaram os analistas a refazer as projeções de lucro do setor para os próximos anos. Eles consideram que tais decisões reforçam a tese de que os bancos privados não poderão sustentar uma diferença tão grande nos juros ao consumidor em relação às praticadas pelos bancos estatais – que, sob pressão do governo, vêm liderando o movimento para redução das taxas. "Não ficaremos surpresos se os bancos privados reduzirem drasticamente as taxas do cheque especial, dado que o atual spread de 78 pontos-base ainda é muito elevado, o que representaria uma queda significativa nos lucros", observa o Credit Suisse em relatório.
O analista Gustavo Schroden, da BES Securities, afirma que o cenário para os bancos nos próximos anos é "desafiador". "Eles terão que diversificar as fontes de receitas, como seguros e tarifas, e cortar despesas, priorizando a eficiência". A mesma expressão foi usada ontem por Roberto Setubal, presidente do Itaú Unibanco, que já definiu uma série de passos: aumentar a receita de serviços, melhorar a eficiência operacional e reduzir perdas com crédito. "O foco são produtos de menor risco", completou o presidente do conselho de administração do banco, Pedro Moreira Salles.