O prazer de trabalhar na terceira idade
Com o passar dos anos ou do tempo de serviço que lhes oferece a possibilidade de aposentadoria, profissionais da terceira idade se perguntam sobre parar ou continuar na carreira. Por conta do aumento na expectativa de vida e as necessidades de mercado, cada vez mais a resposta deste dilema é positiva e muitos permanecem em seus empregos.
Pensando nisso, o JC&E conversou com idosos que optaram por dar seguimento ao trabalho em vez de curtir a aposentadoria e com especialistas para saber sobre os processos seletivos destinados aos trabalhadores com mais ou que estão próximos dos 60 anos.
Diretora geral de três centros educacionais em São Paulo, Tereza Vieira de Carvalho, 62, conta qual foi o principal motivo que a fez continuar na profissão. “Não consigo viver longe do trabalho, amo o que faço. Para mi, é um grande prazer lidar com pessoas, especialmente no que diz respeito à educação”, conta. Tereza comenta que o cansaço é natural, mas que isso não atrapalha em nada seus planos. “Busco o equilíbrio. Procuro dormir e me alimentar be, além de sempre me alongar. Acho que o equilíbrio da minha vida pessoal também é importante para manter o pique no trabalho”.
Perguntada sobre a expectativa de quando deixará o trabalho um pouco de lado, a diretora é taxativa. “Não tenho planos de parar. Talvez mude um pouco o foco daqui para frente, ampliando minha atuação no meio educacional como consultora e palestrante. Viajo todos os anos para algum país diferente conhecendo sistemas educacionais locais. Isso tem me enriquecido muito e tem trazido uma vasta experiência”, diz.
Supervisor de manutenção predial aos 70 anos, Silvio Maia Filho conta seu segredo para a longevidade na carreira. “Pensei sempre em continuar no trabalho, seja como empregado ou autônomo, pois só assim é que terei resistência física e forças para continuar a luta do dia a dia, principalmente porque faço com vontade. Desta forma, consigo forças para a mente e o corpo”, explica Maia Filho.
Voltar à labuta depois de um tempo parado pode atrapalhar na adaptação, comenta Silvio. “Inicialmente, o ideal é não parar, pois o retorno é muito mais dificultoso em todos os sentidos, fazendo com que a pessoa pare em definitivo, pois o corpo não aguenta a rotina diária após longa parada”, afirma.
Em algumas situações, a idade pode ser um diferencial positivo na profissão. É o caso do sommelier José Valmir Pereira, que se aperfeiçoou com o tempo. Aos 56 anos, o trabalhador especializado em vinhos tem em seus mais de 40 anos de carreira seu grande aliado. “A idade me trouxe conhecimento e experiência. Se o tempo não tivesse passado, não chegaria até aqui”, diz. “E vou trabalhar até quando puder, o trabalho me faz be, faço o que gosto”, completa.
Para quem pensa que o trabalho pode atrapalhar o contato com a família, Silvio explica que isso depende de como a pessoa administra o tempo. “Consigo dividir o trabalho com os finais de semana e o próprio expediente. Sempre sobra tempo para a família”.
Tereza também preza a importância de saber colocar cada coisa no seu lugar. “Acho que uma grande habilidade que tenho é a de administrar o tempo. Sempre consigo separar um espaço para passear e curtir. Também participo bastante da minha vida familiar. Mas não consigo pensar em parar de trabalhar. Preciso manter minha cabeça sempre ocupada, sempre fui assim”, comenta.
Aos que se identificaram com as histórias e que também estão passando por essa fase de indecisão entre parar ou continuar a carreira, os entrevistados dão as dicas. Tereza faz questão de encorajar: “A idade está na cabeça de cada um. Se a gente parar, é aí que enferrujamos. Temos de ter corage, mas claro, também sempre cuidando bem da nossa saúde. Passamos a entender e a respeitar alguns limites”, conta. Já o sommelier José enfatiza o que considera essencial para exercer qualquer função. “Trabalhar com algo que lhe dê prazer, que goste, é fundamental”, completa.
E na hora da seleção? – Com certeza essa questão é primordial na hora do trabalhador da terceira idade buscar uma vaga de emprego. Será que o processo é diferente? O que será que os empregadores levam em consideração? Minha idade pode atrapalhar?
Para esclarecer esta e mais dúvidas sobre os processos seletivos destinados a idosos, conversamos com Regina Damazo, consultora de recursos humanos da Linus Estratégia. Regina afirma que as seleções não precisam ser diferenciadas. “Estamos falando de pessoas que estão dentro das perspectivas do mercado. As situações são similares se pensarmos que estamos em um processo seletivo sempre diante de um candidato a uma vaga, não interessando a sua idade”, explica.
A consultora orienta os trabalhadores sobre o que pode ser levado em consideração durante uma entrevista. “É fundamental que a pessoa se coloque no processo da entrevista, a sua identidade pessoal esteja à frente da identidade profissional, e que tenha um arranjo de experiências que provenha novos relacionamentos e modos de reagir aos movimentos legitimados pela era do conhecimento”, explica. A timidez e aquele medo natural de ser mal compreendido não devem ser maiores que a vontade de conquistar uma vaga, avalia Regina. “Hoje, o processo seletivo necessita de pessoas que não tenham dificuldade para postar a sua personalidade, a sua vida em uma entrevista”, complementa.
Mais atenciosos – Muitas empresas optaram por selecionar idosos para o atendimento. A Pizza Hut é uma delas. Daniella Cristina, gerente de recursos humanos da rede, explica os motivos que levaram a companhia a promover seleções para profissionais com mais de 60 anos. “Desenvolvemos o Programa Atividade (voltado à seleção de idosos para as unidades da rede) a partir de pesquisas realizadas pelo IBGE, que mostraram os números de profissionais idosos e ativos na sociedade e suas necessidades”, relembra.
O retorno positivo dos fregueses da empresa contribuiu com o crescimento da iniciativa. “Os clientes da Pizza Hut elogiam constantemente o atendimento dos contratados pelo Programa Atividade, pois eles são muito atenciosos e sabem lidar com todos os tipos de público. Além de remeterem à sensação de estar com os avôs por perto”, comenta Daniella. A consultora Regina completa afirmando que suas experiências no mercado de trabalho fazem deles trabalhadores bastante produtivos. “Em geral, são pessoas mais amadurecidas, que devido à sua própria história de vida, costumam lidar melhor com as questões profissionais”, finaliza.