Os dez passos fundamentais para ficar com as contas no azul em 2013
Passar o ano “no azul”, com as finanças em dia, é uma das resoluções de Ano Novo de dez entre dez brasileiros. Mas, como mostram os números da inadimplência, esse objetivo nem sempre é alcançado. Em 2012, com o crescimento da oferta de crédito, o número de famílias com contas ou dívidas em atraso chegou a 21,7% entre as que fizeram empréstimos pessoais, financiamentos em lojas, prestação de carro e seguros ou usaram o cheque especial, cartão de crédito. Os dados são da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e revelam uma situação preocupante. Em cidades como São Paulo e Uberlândia, em Minas Gerais, por exemplo, os Procons já criaram até núcleos para atender pessoas superendividadas, gente que tomou muito crédito e está com dívidas vencidas ou a vencer muito acima da sua capacidade mensal de pagamento. Para evitar esse tipo de situação, o GLOBO ouviu alguns especialistas no assunto, que fizeram as seguintes recomendações para serem adotadas como “resoluções de Ano Novo” e chegar a dezembro de 2013 com o orçamento sob controle:
1 – Sempre que for possível, pagar à vista: Nenhuma aplicação financeira rende mais do que o juro cobrado em financiamentos. De acordo com levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) o juro cobrado pelo comércio está em 4,30% ao mês o equivalente a 65,3% ao ano. Para se ter uma idéia, a aplicação de renda fixa que ofereceu o retorno mais atraente em 2012 — os fundos de índices — teve rentabilidade de 21,4% no ano. “Se possível adie suas compras para juntar o dinheiro e comprar o bem à vista. Se não, dê a maior entrada que puder e reduza o número de parcelas. Maior prazo, significa mais juros”, diz Altamiro Carvalho, assessor econômico da da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio).
2 – Não usar o limite do cheque especial e do cartão de crédito como se fosse parte do salário: Esse é um dos erros mais comuns de quem cai no endividamento descontrolado. A fatura do cartão de crédito tem que ser paga na data e não rolada. A pesquisa de juros da Anefac mostra que o cartão tem o juro mais salgado do mercado: 9,3% ao mês e 192% ao ano. Cada R$ 1 mil rolados viram quase R$ 3 mil no prazo de um ano. E o cheque especial é uma linha de crédito para emergências. O juro mensal é de 7,92%, que anualizado chega a 149%. “Eu diria que um endividamento do qual você deve fugir sempre é o rotativo do cartão de crédito. Os juros são absurdos", afirma Roberto Vertamatti, diretor de economia da Anefac.
3 – Negociar para ter a menor taxa de juro possível: Dinheiro é mercadoria e o juro é o preço que as pessoas pagam por ele em empréstimos ou financiamentos. Seja nos bancos, nas financeiras ou mesmo no comércio, todos têm margem para reduzir seu ganho com o juro. Isso vale tanto para as taxas cobradas no cheque especial como nos empréstimos pessoais. Assim como se negocia o preço de um bem qualquer, o “preço” do dinheiro também deve ser negociado, afirma Carvalho.
4 – Buscar sempre linhas de crédito mais baratas: Os bancos são concorrentes e em tempos de queda de juro, vale a pena pesquisar a melhor taxa no cheque especial e dos empréstimos pessoais. A pesquisa de juros da Anefac aponta que o juro médio do cheque especial está em cerca de 7,9% ao mês (149% ao ano), enquanto a do empréstimo pessoal é de 3% ao mês (44,92% ao ano). Para a pessoa que realmente tem necessidade de fazer um empréstimo, o recomendado é o consignado, com juros ao redor de 25% ano. Os bancos têm como garantia o salário, porque esse tipo de empréstimo é feito com a concordância das empresas e descontado no contracheque. Já no caso dos aposentados, o desconto acontece direto na aposentadoria. “Tomar crédito para comprar um bem que dê mais conforto e melhore a vida é positivo. Mas isso tem que ser feito com sensatez”, diz Cássia D’Aquino, especialista em educação financeira e autora de livros sobre o tema.
5 – Criar um limite para o endividamento: Os especialistas se dividem entre 20% e 30% da renda como sendo o limite de endividamento máximo recomendado. O ideal, segundo eles, é colocar no papel, numa espécie de planilha, qual é a receita e quais são os gastos fixos mensais. Sempre que for comprar algo de valor, dizem eles, é preciso avaliar se aquele gasto é mesmo necessário e não vai comprometer o orçamento. “Cuidado com as compras supérfluas, lembre que pequenos gastos desnecessários, acabam somando um bom dinheiro no final do mês”, afirma Vertamatti. Ele alerta que toda a família deve saber desse limite, especialmente os filhos que têm cartão de crédito próprio, mas que é pago pelos pais.
6 – Evitar compras por impulso: Uma pesquisa feita pela consultoria Nielsen mostrou que as compras feitas por impulso equivalem a quase 10% do faturamento do varejo no Brasil. Na prática, a maioria das decisões de consumo — principalmente aquelas que viram dívidas —, são feitas de uma forma emocional. “É a emoção que faz a pessoa comprar um objeto de desejo em vez de guardar dinheiro ou pensar no futuro, quando se aposentar”, diz o pesquisador americano Dan Ariely em seu livro Previsivelmente Irracional. “Faça uma lista das prioridades do ano, como reforma da casa, viagem de férias ou troca do carro. E tente não sair do script. Isso evita compras desnecessárias”, recomenda Wilson Muller, consultor do programa Vida Investe da Fundação Cesp.
7 – Ter uma reserva financeira que cubra entre 3 e 6 meses de salário: A recomendação dos especialistas é que as pessoas tenham sempre uma reserva financeira para despesas inesperadas ou para o caso de perda do emprego, por exemplo. Assim, evita-se o cheque especial ou o cartão de crédito. Esse caixa vale também para quitar os compromissos e gastos extras do início do ano, como IPTU, IPVA, por exemplo, que oferecem descontos de 3% a 6% para quem paga à vista. Isso evita começar o ano com dívidas ou inadimplente. “Muita gente se endivida por falta de um fundo de reserva”, diz Cásia D’Aquino.
8 – Buscar orientação financeira: Em diversos sites de corretoras, nos jornais, em cursos da Bolsa de Valores ou mesmo com consultores independentes, a orientação financeira para evitar endividamento exagerado está muito mais acessível. Os Procons de São Paulo e de Uberlândia, em Minas Gerais, por exemplo, criaram serviços destinados aos superendividados, gente que não consegue pagar suas despesas com o salário do mês. Isso vale também para quem tenta, mas não consegue escolher uma aplicação financeira adequada a seus objetivos financeiros. “Educação financeira é essencial para manter as contas no azul e fazer uma reserva financeira, seja pensando na viagem de férias ou na aposentadoria”, afirma o consultor Wilson Muller.
9 – Renegociar dívidas (para quem já está no vermelho): Para quem já começou o ano no vermelho, uma recomendação é trocar dívida mais cara por outra mais barata. Dívidas caras são o cheque especial, cartão de crédito, que têm juros mais altos (7,92% e 9,37% ao mês, respectivamente). Uma opção é fazer empréstimo consignado em folha de pagamento ou pegar um crédito direto ao consumidor, que tem taxas mais baixas. Outra recomendação é procurar o credor de sua dívida e propor uma renegociação do prazo e das taxas de juros em uma condição que seja possível cumprir.
10 – Evitar o ciclo do endividamento: Os especialistas afirmam que o ciclo do endividamento começa com falta de educação financeira, acesso fácil ao crédito, desmotivação, baixa autoestima e até depressão. Esses fatores levam as pessoas ao consumismo exagerado e, o passo seguinte, é o abismo do superendividamento. Se perceber que está entrando nessa roda-viva das dívidas é hora de procurar ajuda, até mesmo com um psicólogo, e quebrar esse ciclo.