26/09/12

Ter companhia traz longevidade, apontam estudos recentes

Um deles mostrou que solitários com mais de 60 anos têm 45% mais risco de morrer mais cedo do que os que se sentem conectados a outras pessoas.

Morremos sozinhos, dizem os filósofos. Mas podemos morrer mais cedo se passarmos a vida sozinhos. Vínculos próximos com amigos e familiares podem afastar problemas de saúde e uma morte prematura, sugerem pesquisas recentes.

 solidão é um fator de risco quanto ao declínio funcional e à morte prematura em adultos que têm mais 60 anos, de acordo com uma pesquisa da Universidade da Califórnia, em São Francisco, publicada em julho deste ano.

Mais de 43% dos 1.604 participantes do estudo relataram que se sentiam excluídos, isolados e sem companhia com frequência.

Durante um período de seis anos de acompanhamento, mais de metade das pessoas que se identificaram como solitárias demonstraram dificuldades com a limpeza e a organização básica da casa e com tarefas pessoais. Descobriu-se também que elas tinham 45% a mais de risco de morrer mais cedo do que os adultos mais velhos que se sentiam mais conectados a outras pessoas.

A maioria das pessoas solitárias (62,5%) era casada ou não morava sozinha – uma indicação de que se sentir solitário e estar sozinho não são a mesma coisa.

"Não é a quantidade, mas a qualidade de seus relacionamentos que importa", disse Carla M. Perissinotto, geriatra que liderou o estudo.

"Não dá para saber quem se sente solitário. Não se trata apenas de uma velhinha que mora sozinha."

O estudo não investigou por que as pessoas diziam se sentir solitárias, acrescentou Perissinotto. "A solidão é biológica ou é socialmente mediada – o que significaria que as pessoas solitárias simplesmente não cuidam de si mesmas ou não recorrem ao sistema de saúde? Quais são os mecanismos em jogo? De quais intervenções práticas poderíamos nos utilizar? Esse precisa ser o próximo passo da pesquisa", questionou ela.

Os efeitos da solidão para a saúde não devem ser ignorados, acrescentou ela. "As pessoas solitárias não têm a iniciativa de conversar com um médico ou com os filhos", disse ela. "E se elas não conversarem com ninguém a respeito, ninguém vai tomar conhecimento."

Outras pesquisas descobriram que a solidão crônica está associada a problemas de pressão arterial alta, doença cardíaca coronária, diminuição da resposta imunológica, depressão, dificuldades de sono, declínio cognitivo e demência.

Até o momento, os pesquisadores ainda não compreenderam o modo como a solidão prejudica a saúde e acelera o envelhecimento, diz Louise C. Hawkley, psicóloga da Universidade de Chicago. Ela escreveu vários artigos sobre a solidão com um colega, John T. Cacioppo, com base em um amplo estudo de longo prazo sobre moradores do Condado de Cook, no Estado de Illinois.

As pessoas cronicamente solitárias – estimadas em 20% da população em geral e até 40% dos adultos com mais de 65 anos – podem ter problemas por causa da maneira como concebem as outras pessoas, disse Hawkley.

 

 

"Em vez de procurar por sinais de aceitação vindos dos outros, as pessoas solitárias ficam em alerta procurando por sinais de rejeição", disse ela.

"Se temos medo de que os outros não nos aceite, podemos parecer indiferentes ou exigentes. Então, as pessoas se tornam mais cuidadosas quando falam conosco, a profecia do solitário se realiza e um círculo vicioso que gera a solidão se desenvolve."

A terapia cognitiva comportamental focada na identificação e reformulação de pensamentos sociais negativos pode ajudar as pessoas que têm um senso de isolamento social, acrescentou.

A pesquisa surge em um momento em que um terço dos americanos com idades entre 45 e 63 anos está solteiro, o que indica um aumento de 50% desde 1980. O número de divórcios entre casais de meia-idade ou mais velhos também está aumentando, com um em cada quatro adultos com mais de 50 anos se divorciando, o que ameaça os vínculos com amigos e familiares.

Mudanças de endereço, doenças e a aposentadoria são eventos comuns na vida da população de meia-idade, exigindo um esforço consciente para reconstruir uma rede social, disse o Dr. George E. Vaillant, professor e psiquiatra da Escola de Medicina de Harvard.

"Da mesma forma que nos exercitamos, pagamos impostos e mantemos uma alimentação saudável, precisamos começar a substituir os amigos assim que os perdemos, particularmente quando chega a época da aposentadora", disse Vaillant, autor do livro "Triumphs of Experience: The Men of the Harvard Grant Study" ("Triunfos da Experiência: O Homens do Grant Study de Harvard"), baseado em uma das maiores pesquisas sobre o envelhecimento já realizadas no mundo.

Iniciada em 1938, a pesquisa monitorou a saúde física e emocional de 268 alunos de Harvard (várias dezenas dos quais sobreviveram; todos estão na casa dos 90 anos); Vaillant conduziu a pesquisa por mais de quatro décadas. O estudo mostra que os relacionamentos são o segredo do envelhecimento saudável, disse Vaillant, que aconselhou a cultivar amizades com pessoas mais jovens por conta de sua energia e do frescor de sua visão de mundo.

"É preciso se interessar em alguém diferente de si mesmo – não em passatempos, palavras cruzadas ou no mercado de ações – mas em gente de carne e osso", disse ele.

"É por isso que o voluntariado é tão importante – a única maneira de parar de pensar no seu próprio, único e maravilhoso ego é pensar nos outros."

O egocentrismo não foi problema para Richard Anderson, de 67 anos, morador de Arlington, Virgínia. Ele se tornou voluntário da Associação Well Spouse, um grupo de apoio, depois de muito tempo sendo o principal cuidador de sua esposa, que morreu em 2004, após décadas sofrendo de uma enfermidade debilitante. Cuidando da esposa, Anderson descobriu que as próprias doenças podem provocar isolamento.

"À medida que uma doença avança, os amigos passam a ter mais dificuldade de se relacionar conosco", disse Anderson, bibliotecário da Universidade de Georgetown.

"E se não há possibilidade de cura, algumas pessoas não conseguem lidar com isso e se afastam."

Depois de entrar no grupo, ele conheceu cuidadores de cônjuges com quem manteve contato.

"Mesmo que percamos amigos antigos durante uma doença, ainda é possível fazer novos amigos que vão aceitar a nossa situação pelo que ela é", disse Anderson, que desde então se casou novamente.

* Por Tara Parker Pope