09/01/13

Um futuro que já chegou

 Os brasileiros estão vivendo mais e melhor. Isso é indiscutível. Hoje, as pessoas envelhecem com muito mais saúde, com maior capacidade de manter a qualidade de vida e também com a possibilidade de continuar utilizando sua experiência profissional de maneira produtiva. Todo esse cenário já faz com que a forma de envelhecer que conhecíamos dê lugar a um novo processo. 

O antigo paradigma de que os jovens aprende, os adultos trabalham e ganham a vida e os idosos descansam vem caindo por terra. Os idosos não querem mais se aposentar aos 55 ou 60 anos e parar. Agora são ativos, independentes, buscam hábitos mais saudáveis e têm mais energia que muitos jovens. 

Segundo o diretor do departamento de Estudos em Demografia da Universidade de Harvard, David Bloo, que esteve no Brasil para participar do VII Fórum da Longevidade Bradesco Seguros, o Brasil será o Japão de hoje em termos de envelhecimento da população. Desde o pós-guerra, em 1945, a expectativa de vida no Brasil vem aumentando significativamente. 

A idade média da população brasileira nos anos 50 era de 20 anos, hoje é de 30, e a previsão é que chegue a 45 anos em 2050. A expectativa de vida aumentou 25,4 anos de 1960 a 2010, passando de 45 para 73,4 anos. É uma grande conquista. No entanto, precisamos nos preparar e nos planejar para desfrutar dessa longevidade da melhor forma. 

Atualmente, 11% da população brasileira tem mais de 60 anos. A expectativa é que os indivíduos entre 60 e 80 anos cheguem a 14 milhões em 2050, contra 3 milhões em 2011. Já os com mais de 80 anos passarão de 22 milhões para 64 milhões. Isso porque a média de fertilidade, que em 1950 era de seis filhos, caiu para 1,7, o que coloca o Brasil cinco anos à frente da média mundial. 

Esse fenômeno abre desafios e oportunidades importantes para a sociedade, que precisam ser avaliados com rapidez. A França, por exemplo, demorou 115 anos, a partir de 1865, para dobrar de 7% para 14% o número de pessoas com mais de 60 anos. 

Essa população idosa tem importante contribuição na nova forma de se ver o mundo, a família e a sociedade. São mais exigentes, dominam processos produtivos com mais facilidade e são mais calmos e resistentes para enfrentar crises. Nesse sentido, conseguem manter a rotina do trabalho e da vida sem considerarem que é sacrifício. Isso é importante para uma fronteira de maior maturidade tanto para os países como para as sociedades. 

São necessárias mudanças estruturais, sociais e políticas para minimizar os impactos do envelhecimento populacional. Ao mesmo tempo em que a longevidade aumentou, a renda per capita dobrou, a expectativa de vida cresceu e a educação melhorou. Agora, precisamos retirar o envelhecimento das políticas restritivas. 

A geração dos "baby boomers", nascida no pós-guerra e que hoje está representada nos idosos, teve muitas conquistas, como a liberdade sexual, a inserção da mulher no mercado de trabalho e a separação formal do período de vida que caracteriza a adolescência. A novidade agora é a fase da vida que dura de 20 a 30 anos e representa o momento de envelhecer ativamente, sem se sentir velho de fato. 

O mais importante dessa nova realidade é garantir a qualidade de vida. Não existe idade para estudar, aprender, viajar e se exercitar. Aí vem aquela pergunta: como se reinventar aos 60 anos? A questão educacional é fundamental. Se a pessoa tiver qualificação, poderá se reinventar dentro de sua profissão, ou aprender uma nova ocupação, trabalhar por mais tempo e continuar produzindo. Isso é válido para todas as classes sociais. 

Um exemplo disso é atriz Jane Fonda, premiada com dois Oscar por "Klute" (O passado condena, 1971) e "Amargo Regresso" (1978), filha do lendário ator Henry Fonda. Em recente visita ao Brasil, a musa do filme "Barbarella" fez questão de ressaltar que envelhecer é sempre poder experimentar o novo, ter desafios todos os dias e uma agenda a cumprir, sem esquecer do físico. Portanto, é possível envelhecer com dignidade, vitalidade e fé da vida. 

O envelhecimento ativo abre espaço também para que os idosos continuem consumindo para reforçar a economia local e global. É um potencial de consumo praticamente inexplorado e que pode ser muito vantajoso para quem estiver atento e souber aproveitar essas oportunidades. 
Para se ter uma ideia, em 2012 os idosos consumiram mais de R$ 400 milhões, o que representa um quinto da renda somada de todos os brasileiros. Além disso, eles têm utilizado cada vez mais a internet, tanto que o tempo médio gasto na internet por eles é apenas 40 minutos menor do que dos jovens e as compras realizadas por eles nesse canal cresceu 200%, um aumento significativo quando comparado aos 60% de crescimento do comércio tradicional. 

Hoje, os idosos mantêm o mercado turístico ativo mesmo fora da alta estação e podem fortalecer muitos outros segmentos. 

Muitas pessoas confundem o fato de envelhecer bem com não envelhecer. Envelhecer é uma conquista! O Brasil precisa se acostumar com a ideia de que não será mais um país jovem. Muito pelo contrário, será cada vez mais velho. E terá que fazer essa transição de forma irreversível. 

Por isso, é importante discutirmos as mudanças causadas pela redução da taxa de natalidade e de mortalidade no Brasil e os impactos que isso terá na economia. Só assim poderemos nos preparar para o envelhecimento do país. E o quanto antes começarmos a nos preparar, melhor. 

Fica mais uma lição da atriz Jane Fonda, que divide a sua trajetória em três atos e classifica o último deles, a partir de 60 anos, como o momento em que a vida se mostra plena. Os ensinamentos acumulados estimulam a busca por uma vida ativa na terceira idade, que certamente fará chegar aos 90 anos, assim como a atriz e cantora brasileira Bibi Ferreira, com a alegria de uma menina. 

Quando se é jove, é difícil acreditar que vai envelhecer, mas todos vão. Sendo assim, o melhor é se preparar e tirar o melhor proveito do terceiro ato. Esse é um futuro que já chegou ao Brasil.  

Fonte: Lúcio Flávio de Oliveira